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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Da periferia ao pódio: Diogo Silva mira medalha de ouro em Londres

Principal nome do taekwondo brasileiro, atleta de São Sebastião relembra conquistas e superações para chegar às Olimpíadas de 2012

Por GLOBOESPORTE.COM São Sebastião, SP
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Uma carreira inspirada nas telas do cinema. Foi graças aos filmes de ação que o lutador Diogo Silva, do taekwondo, é hoje uma das esperanças de medalha para o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2012. Nascido em São Sebastião, Litoral Norte de São Paulo, o atleta se espelhou nos atores Bruce Willis e Jean–Claude Van Damme para chegar ao sucesso no esporte.
A tática parece ter dado certo. Sétimo colocado no ranking mundial da categoria até 68 kg, Diogo Silva é um dos favoritos a subir no pódio nas Olimpíadas de Londres. O reconhecimento na modalidade ele alcançou após a conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, mas são os resultados recentes que lhe dão este rótulo.
Diogo Silva taekwondo pan-americano (Foto: Luiz Pires/VIPCOMM)Diogo Silva afirma estar preparado para conquistar a primeira medalha em Jogos Olímpicos
(Foto: Luiz Pires/VIPCOMM)
Em 2011, no Mundial do Azerbaijão, foi medalhista de bronze na competição. A terceira colocação rendeu ao atleta vaga nos Jogos Olímpicos de Londres, o segundo da carreira. Depois de ficar com o quarto lugar em Atenas, Diogo Silva agora acredita que pode ganhar a medalha dourada.
– Minhas expectativas são muito boas para as Olimpíadas. Quero disputar, pelo menos, a semifinal. Confio bastante no meu potencial – disse o lutador em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM.
A confiança em si, Diogo Silva mostra ter desde a infância. Ele precisou superar diversos obstáculos para triunfar no esporte.
Uma profissão do destino
Filho de mãe solteira, Diogo Silva nasceu e foi criado no bairro do Topo, periferia de São Sebastião. O interesse pelas artes marciais surgiu logo na infância, quando assistia aos filmes. Os incríveis golpes encenados pela dupla deixavam deslumbrado o garoto, que era conhecido pelo jeito hiperativo de ser.
A hiperatividade de Diogo, aliás, foi o motivo para a mãe deixá-lo praticar esportes. Além de gastar energia, as aulas tiraram o menino das ruas, onde frequentemente se envolvia em brigas com outros garotos.
– Em 1989, fui um dia com minha mãe ao Tebar Praia Clube, em São Sebastião, saber se lá tinha alguma aula de artes marciais. Por coincidência, aconteceria naquele dia e naquela hora uma aula de taekwondo. Participei e vi que era aquilo que gostaria de fazer. Digo que foi o taekwondo que me encontrou – afirma.
Em São Sebastião, Diogo treinava três vezes por semana. Competição, entretanto, não disputou na cidade litorânea. Os primeiros torneios foram em Campinas, para onde se mudou aos 11 anos e começou a treinar na Ponte Preta com o mestre Tilico.
Talento despertado
Logo nas primeiras competições, o garoto já ganhou medalhas. Aos 13 anos, foi campeão paulista júnior. Quando tinha 16 anos, já era tetra campeão paulista e bi brasileiro.
Diogo Silva taekwondo (Foto: Divulgação/Site Oficial Diogo Silva)Atleta decidiu seguir carreira no esporte ainda na
infância, logo após as primeiras vitórias
(Foto: Divulgação/Site Oficial Diogo Silva)
Diogo tem boas recordações dessas conquistas. Ainda mais por elas terem chegado depois de muito esforço.
– Aos 14 anos, eu dava aulas de taekwondo no clube da Ponte Preta para ter dinheiro para me manter no esporte. Enfrentei muitas dificuldades por falta de incentivo. Mas um dos segredos para eu ter essas vitórias é que nunca tive medo de nada. Encarava qualquer um, independente da idade, tamanho ou peso – relembra o atleta.
Com o sucesso precoce nos tatames, chegar à Seleção Brasileira era uma questão de tempo. E a convocação foi rápida para surgir. Depois de ter disputado uma vaga para a Olimpíada de Sidney aos 17 anos, Diogo começou a defender o Brasil dois anos depois.
Um gesto para marcar
Em dezembro de 2003, o lutador participou de uma seletiva continental para conseguir uma vaga nos Jogos Olímpicos de Atenas. Com um bom desempenho, o atleta carimbou o passaporte para a Grécia. A realização de um sonho, segundo ele, tem uma sensação “indescritível”.
Em Atenas, Diogo Silva alcançou a quarta colocação. A medalha, ele não colocou no peito, porém, com um gesto, conseguiu ficar marcado na história da competição. Ao terminar a última luta nas Olimpíadas, ele levantou a mão direita com uma luva preta, sinal que representa os Panteras Negras.
– Até os meus 22 anos, morei em periferia. Morava na periferia de Campinas, gastava 1h30 de ônibus para ir aos treinos. Eram muitas as dificuldades. Eu também comecei a me engajar com causas sociais nessa época. Então, aproveitei aquele momento para mostrar o que passa um atleta amador no Brasil. As pessoas não têm ideia do tamanho das dificuldades que enfrentamos – diz.
Diogo Silva taekwondo pan-americano (Foto: Luiz Pires/VIPCOMM)Diogo Silva foi eleito o melhor atleta da modalidade pelo COB em 2004, 2005, 2006, 2007 e 2009
(Foto: Luiz Pires/VIPCOMM)
O reconhecimento
O protesto fez com que Diogo Silva passasse a ser conhecido. Mas nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, que ele ficou reconhecido pelo talento nos tatames.
Ao ganhar a medalha de ouro, tornou-se o segundo medalhista brasileiro na modalidade nesta competição.
– O Pan-Americano marcou antes e depois. Desde quando o Rio de Janeiro foi escolhido para ser a sede dos Jogos, sabíamos que aquela seria a oportunidade de mudarmos nossas vidas. Tanto que esse foi o Pan em que o Brasil conquistou mais medalhas – afirma.
O sucesso, no entanto, não trouxe apenas benefícios para Diogo. Convites para participar de eventos e propagandas começaram a aparecer. Resultado: não conseguiu se dedicar para representar o Brasil na Olimpíada de Pequim, em 2008.
– Quando eu ganhei a medalha de ouro no Pan, eu ainda andava de ônibus. Minha mãe também passava por dificuldades. Então, propostas surgiram para eu melhorar a minha condição financeira. Mas daí não tinha condições de me dedicar totalmente aos treinos. Isso impediu que eu conquistasse a vaga para Pequim.
No Brasil, há muitos talentos para o taekwondo, mas falta direção"
Diogo Silva
Nova chance
Agora, Diogo Silva tem a oportunidade de disputar outra Olimpíada. A preparação para Londres foi feita com treinos intercalados. Houve períodos de trabalhos intensos e períodos mais leves. Geralmente, eles aconteciam de segunda-feira a sábado, em dois períodos.
O atleta também se preparou fora do Brasil. Neste ano, esteve nos Estados Unidos, México e França. Treinado pelo técnico Fernando Madureira, o lutador tem o suporte de sete profissionais. Desde fisioterapeutas até psicólogo especializado em MMA. Equipe essa que trabalha para colocar o atleta no topo do pódio.
– Quero buscar esta medalha. Tentarei dar orgulho aos brasileiros novamente – garante Diogo Silva.
Para surgir novas medalhas
A paixão pelo taekwondo é tamanha que o lutador pensa em desenvolver, no futuro, um projeto em São Sebastião para difundir a modalidade. Segundo ele, é isso o que falta para o esporte crescer no país.
– O esporte amador, em geral, precisa ter um pensamento mais profissional. No Brasil, há muitos talentos para o taekwondo, mas falta direção. Precisamos seguir uma linha de trabalho. O Brasil, por exemplo, não tem um centro de treinamento para o taekwondo. Isso dificulta as coisas.
– Quem quer se profissionalizar precisa entender que o esporte não é uma carreira, mas, sim, uma opção de vida. Você precisa, muitas vezes, deixar algumas coisas de lado para treinar. Ou seja, é necessário ter bastante dedicação. Isso não somente no esporte, mas em qualquer atividade da vida – finaliza.
taekwondo Diogo Silva (Foto: Wander Roberto / Inovafoto / COB)Para o lutador, ter paixão pelo esporte é a principal fórmula para o sucesso (Foto: Wander Roberto / Inovafoto / COB)

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