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sábado, 7 de abril de 2012

À vontade, Julio Cesar vê no Grêmio chance de dar fim à 'vida de cigano'


Em entrevista exclusiva, jogador elogia Luxemburgo, fala em renovar contrato e projeta jogar no meio: 'A tendência do futebol é o lateral acabar'

Por Lucas RizzattiPorto Alegre
Ele tem sangue paulista, foi criado na escola carioca do futebol e também se arrisca a pilotar uma churrasqueira como um típico gaúcho. Seu currículo impressiona pela diversidade de clubes e regiões visitadas. Mas, aos 29 anos, Julio Cesar definiu o Grêmio como o início de uma nova fase. Depois de acumular experiências Brasil afora, o lateral-esquerdo quer fincar pé em Porto Alegre e deixar de lado a "vida de cigano".
- Daqui a pouco, estou até tomando chimarrão - diverte-se.

Em entrevista exclusiva ao GLOBOESPORTE.COM, Julio Cesar abre sua casa, em um confortável condomínio da capital gaúcha, para falar de seus objetivos no Grêmio, do desencantamento com o sonho europeu e ainda revelar a vontade de, quando se aproximar do fim da carreira, retornar à sua posição de origem, o meio-campo. Era armador nos juniores do Bangu, no início dos anos 2000, mas logo foi recuado. Encontra agora no Grêmio o responsável pela mudança decisiva em sua carreira. É Júnior Lopes, filho de Antonio Lopes, e um dos auxiliares de Vanderlei Luxemburgo.
julio cesar lateral grêmio especial (Foto: Lucas Rizzatti/Globoesporte.com)Julio Cesar se sente em casa em Porto Alegre (Foto: Lucas Rizzatti/Globoesporte.com)
Por enquanto, o seu lugar ainda é pelo lado do gramado. Até porque não há outro lateral-esquerdo de ofício no grupo tricolor. A falta da famosa "sombra" não lhe permite acomodação. Pelo contrário:
- A responsabilidade só aumenta. O grupo precisa ainda mais de você.

Julio Cesar também trata de tranquilizar os gremistas. Com a renovação encaminhada, está apenas à espera da metade do ano, quando já poderá assinar um pré-contrato com outro clube - seu vínculo com o Fluminense se encerra no final de 2012. Firmará um acordo com o Grêmio até 2014.

O clube em que mais tempo ficou foi o Goiás, dois anos. Agora, está muito próximo de superar a marca. Definitivamente, Julio Cesar começa a sepultar o seu lado cigano. Afinal, está cada vez mais titular no Grêmio, cada vez mais adaptado a Porto Alegre. Enfim, cada vez mais em casa.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
GLOBOESPORTE.COM - Você chegou no Grêmio em agosto passado e conseguiu alcançar seu espaço em um tempo bastante curto. A que se deve isso?
Julio Cesar -
 Eu tenho essa facilidade para me adaptar. Já rodei o Brasil todo. No Grêmio, cheguei em maio a uma competição (Brasileirão) e, mesmo assim, deu tudo certo. Estreei num Gre-Nal (28 de agosto, vitória por 2 a 1), não foi fácil. A pressão era grande, estávamos perto da zona de rebaixamento.
Por que a troca do Fluminense pelo Grêmio no meio da temporada?
Estava bem lá, tanto que o Abel (Braga) demorou para me liberar. O fato é que sempre tive vontade de jogar no Grêmio. Eu falei isso na época da minha apresentação, e não foi da boca para fora. Pela fama da torcida, pelo estádio, que é maravilhoso de se jogar... pela cidade também.
julio cesar lateral grêmio especial (Foto: Lucas Rizzatti/Globoesporte.com)Julio recebe de amigos gaúchos dicas para assar
churrasco (Foto: Lucas Rizzatti/Globoesporte.com)
Está curtindo Porto Alegre?
Sim, é bem tranquilo. Gostei muito daqui, é um lugar legal para morar. Saio para jantar em restaurantes ou em shoppings. Mas, com filhos pequenos (Beatriz e Manuela, que estão para completar um e três anos, respectivamente), fica mais complicado de sair.
Já encarou o frio?
Cheguei no fim do inverno, mas vamos ver este ano. Acho que a minha esposa (Fernanda) e as minhas filhas vão estranhar mais. O verão foi muito abafado, quente. Mais quente do que no Rio.
Dentro de campo, já houve muitas mudanças. Foram três técnicos em poucos meses...
É, mas o jogador brasileiro está acostumado, é normal.

Neste ano, já foram dois treinadores. Como foi com Caio Júnior?
O futebol é movido a resultado, e o Caio queria implantar uma filosofia. Os resultados acabaram não acontecendo. Mas é um treinador novo, de boas ideias, que pensa no futuro. Em breve, vai dar certo.

E com Luxemburgo?
É a primeira vez que trabalho com ele. Tem sido bom, todo jogador sonha em trabalhar com grandes treinadores. Estamos com muita vontade de aprender. E o resultado está dentro de campo, só perdemos uma partida.
No último jogo, ele experimentou o 3-5-2. O que achou?
É o esquema que eu mais gosto, até porque sou meia de origem. Quando um treinador fala em 3-5-2, já abro o sorriso. Mesmo assim, não é fácil, até porque estamos jogando sempre no 4-4-2. E não temos tempo para treinar, está sendo na base da conversa. E o Luxemburgo é muito bom na conversa, entendemos na hora o que ele pretende aplicar.
O Luxemburgo é muito bom na conversa, entendemos na hora o que ele pretende aplicar."
Julio Cesar
Por falar em meia, pretende voltar a atuar nessa posição?
Sem sombra de dúvidas. Daqui a um tempo, perto do fim da carreira, pretendo jogar no meio-campo. Hoje em dia, o lateral sofre muito. Mas ainda acho que dá para aguentar ao menos uns quatro anos função.
Muitos jogadores tomam esse caminho, está difícil achar laterais no mercado...
Creio que, no futuro, os laterais irão acabar. Na Europa, a linha de quatro defensiva é praticamente formada por zagueiros. O lateral está virando um meia na segunda linha. No Barcelona, por exemplo, o Daniel Alves é quase um ponta. No Brasil, é muito diferente, ainda vai demorar esse processo.

De qualquer forma, você está garantido.
Sim, se acabar o lateral, vou para o meio-campo, não tem problema algum (risos).

Essas suas ideias táticas podem levar você a ser técnico no futuro?
Posso até queimar a minha língua, mas acho difícil eu continuar no mundo do futebol depois de me aposentar. Acho que não sentirei falta dele.
A Seleção ainda está na sua mira?
Sonhar sempre se sonha, mas agora o Mano Menezes está bem servido. Tem o Marcelo (Real Madrid), é um dos grandes laterais do futebol mundial. Se em 2009 (quando foi eleito o melhor lateral do Brasileirão, no Goiás), eu tivesse ido para a Europa, talvez teria conseguido uma convocação.
Clubes
Bangu/RJ - 2002
América/RN - 2003
Flamengo - 2003-2005
Marília - 2005
Cruzeiro - 2006
Cabofriense - 2007
Náutico - 2007
Goiás - 2008-2009
Fluminense - 2010
Grêmio - 2011 até agora

Títulos
Carioca (Flamengo - 2004)
Mineiro (Cruzeiro - 2006)
Goiano (Goiás - 2009)
Brasileiro (Fluminense – 2010)
 
Você tem um extenso currículo no Brasil, mas não se aventurou no exterior. Sente falta disso?
Eu já tive mais vontade. Claro, se surgir uma oportunidade boa... Mas a minha cabeça está no Brasil, não penso em Europa como pensava há dois anos. Estou mais tranquilo hoje. Às vezes, o mercado árabe ou asiático oferece dinheiro, você vai na empolgação, sem saber como é,  bate o desespero e quer voltar.

Como foi ser o melhor lateral do Brasileirão em 2009?

Concorri com o Kleber (Inter) e o Armero (Palmeiras). Para mim, foi legal porque ganhei não estando num Grêmio, Corinthians ou Flamengo. Estava no Goiás, um clube mais afastado do grande centro, do eixo principal. Foi gratificante.
O Grêmio tem a Copa do Brasil como meta mais próxima, mas há ainda o Brasileirão, que você venceu em 2010 pelo Fluminense. Como você projeta o time nos pontos corridos (estreia dia 20 de maio, contra o Vasco)?
Com todos os jogadores à disposição, vamos fazer uma boa campanha, inclusive poderemos brigar pelo título. O Vanderlei já conhece a competição (venceu cinco vezes), temos todas as condições. Eu adoro o Brasileirão, vamos entrar fortes.
O fato é que sempre tive vontade de jogar no Grêmio. Eu falei isso na época da minha apresentação, e não foi da boca para fora. Pela fama da torcida, pelo estádio, que é maravilhoso de se jogar"
Julio Cesar
Você entende de Brasileirão, mas está vivenciando seu primeiro Gauchão. Está achando violento, como andam afirmando?
Não, eu achei que fosse mais pegado até, de acordo com o que eu ouvia. No interior de Goiás, por exemplo, você encontra uma pegada muito forte também. No próprio Carioca, os times pequenos chegam firme. Não tem muita diferença, não.
Violento ou não, o fato é que o Grêmio vem tendo azar com lesões este ano. Inclusive você.
Sim, no joelho, é uma lesão muito chata. Você sofre um bom tempo com dores durante a recuperação. É a mesma situação que hoje passa o Guiñazu no Inter. Já tive essa lesão no Fluminense. Mas, graças a Deus, foram apenas essas. Nunca passei por cirurgia. Com todos esses problemas que estamos tendo com lesões, é hora de o Grêmio mostrar a força do grupo. E temos um elenco excelente, o clima é ótimo. Todos se dão bem. Não há briga nem vaidades.

Isso, com certeza, só o motiva a permanecer.
Sem dúvida. Mas ainda não posso assinar nada. Pré-contrato só no meio do ano. Mas essa possibilidade de permanência dá uma tranquilidade para você trabalhar. Você fica nessa vida de cigano, parando aqui e ali, chega disso. Quero ficar num clube legal, em que me adaptei muito fácil e no qual espero conquistar todos os títulos possíveis.
  Fonte: Globo Esporte

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