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terça-feira, 14 de agosto de 2012

De protagonista a figurante: a queda de Ganso no Santos e na Seleção

Meia chegou a ser quase unanimidade no Brasil, mas lesões e novela por conta de renovação coincidiram com declínio e perda de prestígio

Por Marcelo Hazan e Marcio Iannacca Santos, SP e Estocolmo
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Às vésperas da Copa do Mundo de 2010, muitos torcedores pediam a Dunga a convocação de Paulo Henrique Ganso. O jovem jogador desfilava pelo Santos. Comandava com maestria o time de Neymar e Robinho, campeão paulista e da Copa do Brasil. O pedido não foi atendido. Passado o Mundial, o meia do Santos foi prontamente chamado pelo novo treinador, Mano Menezes. Apesar de altos e baixos, o camisa 10 chegou à Copa América de 2011, na Argentina, como protagonista - havia acabado de vencer a Taça Libertadores pelo Peixe. Mas foi mal - e a Seleção sentiu. Acabou eliminada nas quartas de final.
Apesar das atuações irregulares e de algumas lesões, Ganso continuou fazendo parte dos planos de Mano. Mas aí vieram as Olimpíadas de Londres. E a prova de que o até então craque Ganso passou a um mero figurante na Seleção.
Paulo Henrique Ganso no treino da Seleção (Foto: Ag. Estado)Paulo Henrique Ganso virou um figurante na Seleção e acabou cortado por Mano Menezes (Foto: Ag. Estado)
O comportamento e o desempenho do meia nos treinamentos nos Jogos mostraram um jogador bem diferente daquele promissor garoto que brilhou com a camisa de Pelé. Muitas vezes apático, o meia caiu ainda mais de produção depois de sentir uma lesão muscular na coxa esquerda durante a preparação para as Olimpíadas. Chegou a ser cogitado o seu corte da Seleção, mas o departamento médico o manteve. Porém, o jogador não atuou mais, fez figuração nos treinos e acabou cortado, por decisão técnica de Mano Menezes, do amistoso contra a Suécia, em Estocolmo, na próxima quarta-feira.

- Ganso não vai para Estocolmo. É uma decisão técnica. Ele estaria em condição de jogar, mas penso que pela falta de parâmetro fica difícil o aproveitamento dele e não acho correto levar por levar - explicou o técnico da Seleção.
Portanto, é possível dizer que Ganso está fora do time canarinho por deficiência técnica - tremenda ironia, algo que poderia parecer mentira algum tempo atrás, principalmente por ser um jogador que era apontado como uma das principais promessas para a Copa do Mundo de 2014. O meia pode até voltar a ser decisivo e importante para a equipe nacional até lá, mas atualmente ele vive um momento ruim. Instável. E não é apenas na Seleção. No Santos, a situação do atleta também não é das melhores.
Os números apontam que o camisa 10 não vive uma boa fase, agravada por uma sequência lesões e de indefinições em sua carreira. Em 2010, por exemplo, ele participou de 43 dos 78 jogos do Peixe na temporada. No ano seguinte, fez 31 das 77 partidas do clube da Vila Belmiro. E neste ano, até aqui, jogou 29 dos 51 duelos alvinegros.
info numeros ganso x santos - 2 (Foto: infoesporte)
É verdade que as lesões o atrapalharam muito. Foram quatro cirurgias, sendo duas artroscopias no joelho direito (uma em 2010 e outra em 2012) e duas reconstruções de ligamento (uma no joelho direito, em 2007, e outra no joelho esquerdo, em 2010, justamente em seu melhor ano - ele ficou afastado de agosto até fevereiro de 2011). Houve também uma lesão na coxa direita na final do Paulistão de 2011, outra na coxa esquerda, em setembro de 2011, no amistoso pela Seleção contra Gana, e a última também com a Seleção, em Londres, na mesma coxa esquerda.
O início das lesões, por sinal, coincidiu com os problemas de relacionamento que Ganso passou a ter com a diretoria do Santos. À época da lesão no ligamento do joelho esquerdo, em 2010, o jogador iria renovar contrato, junto com Neymar. Mas o problema médico adiou o novo acordo. O meia se sentiu desprestigiado pelo clube durante sua recuperação e, em janeiro de 2011, cobrou publicamente valorização do Peixe. As fortes declarações foram o pontapé inicial de uma longa novela que dura até agora.
Antes dos Jogos de Londres, a saída do camisa 10 era considerada iminente após a competição, por conta da vontade e declarações das duas partes. Apesar disso, tanto o presidente santista, Luis Alvaro Ribeiro, quanto como o próprio Ganso amenizaram o tom. Nesta segunda-feira, o mandatário seguiu dizendo que libera o atleta mediante a uma "proposta razoável", sem especificar valores - a multa internacional é de € 50 milhões (R$ 124,5 milhões) e a nacional de R$ 53 milhões. No entanto, afirmou que não deseja se desfazer do jogador.
- Não cogitamos a saída do Ganso. Esperamos seu retorno e contamos com seu futebol neste momento de recuperação do Campeonato Brasileiro. Se ele sentir a necessidade de sair, será através de uma proposta que seja razoável e atenda aos interesses do Santos. Contamos com ele até fevereiro de 2015 (data de término do vínculo). Todo o resto é especulação - afirmou o dirigente.
Em sua chegada a São Paulo, após as Olimpíadas, Ganso afirmou que está à disposição do técnico Muricy Ramalho.
- Eu estou me sentindo bem, tranquilo e pronto para jogar. Se o Muricy precisar, estarei presente na quinta, contra o Figueirense. Já falei que ele pode ficar tranquilo. Estou voltando para ajudar o Santos e melhorar ainda mais o time para retornarmos à ponta do Brasileirão - garantiu.
Ganso, Fisioterapia (Foto: Reprodução / Facebook)Ganso foi submetido a artroscopia logo após o Paulista e voltou em três semanas (Foto: Reprodução/Facebook)
Atualmente, 55% dos direitos de Ganso são do Grupo DIS, empresa que gerencia sua carreira e que também mantém um relacionamento conturbado com o Peixe. Os outros 45% são do clube. Depois de inúmeras tratativas com Ganso e seus representantes, a diretoria do Santos desistiu de renovar o contrato. Principalmente porque o clube alega que Ganso nunca aceita o que tem sido oferecido e pede números altos.
O jogador, por outro lado, entende que merece ter seu salário equiparado aos de outras estrelas do time. Enquanto os principais jogadores ganharam aumento após o título da Libertadores, Ganso manteve seu salário de 2010, hoje, um dos mais baixos entre os titulares.
Novela comprida
Paulo Henrique Ganso no desembarque em São Paulo (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)Na volta ao Brasil, Ganso promete se dedicar ao
Peixe (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Flamengo, São Paulo, Corinthians e Grêmio sondaram a situação de Paulo Henrique Ganso, mas só o Internacional, por meio do DIS, oficializou oferta para contratar o jogador. O valor ficou abaixo do valor que o Santos quer: R$ 24 milhões do montante pelos seus 45% - a empresa chegou a oferecer mais da metade deste valor. O Peixe considerou insuficiente.
Apesar da negativa do Peixe, as chances de Ganso deixar a Vila Belmiro são grandes, de acordo com um dos membros do grupo que administra a carreira do jogador. Uma reunião entre os representantes do meia e dois membros do Comitê de Gestão do Peixe deve ser realizada ainda nesta semana. A intenção é dar um fim à novela que já dura dois anos.
Lesões atrapalharam
O fraco rendimento do jogador nas Olimpíadas é atribuído pelos membros do seu estafe ao sacrifício que ele fez para retornar antes do tempo após artroscopia no joelho direito a que foi submetido depois da conquista do Campeonato Paulista. Três semanas depois da cirurgia, ele estava campo para encarar o Corinthians, pelas semifinais da Libertadores.

Responsável pelas operações nos joelhos de Ganso, o médico José Ricardo Pécora, no entanto, diz que o camisa 10 viajou para Londres em plenas condições.
- São dois aspectos: clinicamente ele estava bem. O condicionamento físico é o departamento de futebol que tem de avaliar. Tudo foi feito em conjunto com o atleta, e ele foi liberado (para as semifinais da Libertadores). Lesão muscular é imprevisível, pode acontecer mesmo no auge da forma física - explica.
As sete lesões sofridas por Ganso ao longo de sua ainda breve carreira também são consideradas anormais, mas Pécora não vê relação entre os problemas e diz que isso não significa que o jogador tenha tendência a se machucar. Ganso já foi aconselhado a se consultar em clínicas particulares para ser examinado e investigar se existe algum problema não diagnosticado. No entanto, ele nunca aceitou, pois tem confiança nos profissionais do Centro de Excelência em Prevenção e Recuperação de Atletas de Futebol (Cepraf) do Santos.

- Todos jogadores são submetidos a cargas fortes. Alguns têm resistência maior, outros reagem de forma diferente. Encaro como coincidência, porque não são sempre nos mesmos grupos musculares. Pode ter várias interpretações: de que ele é um atleta voluntarioso e não se limita no esforço, por isso sente - completa Pécora.
   Fonte: Globo Esporte

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