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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O bairro da Arena: Humaitá entra em nova era com estádio do Grêmio

Nova casa do clube gaúcho movimenta a economia numa região conhecida pela estagnação. O impacto da Arena no bairro encerra série do GE.COM

Por Lucas Rizzatti e Paulo Ludwig Porto Alegre
Header Selo Arena do Grêmio desvendada (Foto: GLOBOESPORTE.COM)
Os moradores do bairro Humaitá, zona norte de Porto Alegre, vivem ressabiados. Já ouviram promessas de que a região, quase divisa com Canoas, acolheria grandes obras como a futura Rodoviária e até um Sambódromo. Nada saiu do papel. Depois de tantas promessas e nenhuma mudança, eles ainda esperam o corte da fita e os fogos de artifício pipocarem no céu para comemorar o início de uma nova era para o bairro. A expectativa da vez atende pela Arena do Grêmio. O impacto do estádio nos habitantes da região encerra a série de reportagens do GLOBOESPORTE.COM sobre a nova casa gremista.
“O Humaitá não evolui”. Essa era uma das frases mais ouvidas nas ruas ainda pavimentadas com paralelepípedos que recortam os prédios do bairro. Com foco residencial, o Humaitá não dispunha de muitas opções para consumo, como lojas, restaurantes ou mesmo estabelecimentos como bancos e supermercados.
Praticamente todo o comércio surgiu com a inauguração do bairro. E assim se mantém até hoje. Padarias, lanchonetes, minimercados e cabeleireiros dominam a região. Até o mês de setembro, para pagar uma simples conta, o morador tinha de tomar um ônibus ou pegar seu carro até a Avenida Farrapos, via que liga o bairro ao Centro.
Mas eis que surgiu a Arena. O projeto do estádio gremista deu nova vida ao bairro e acendeu novamente a chama do crescimento. Quem poderia imaginar que a região receberia um shopping e um condomínio de alto padrão? Tudo isso virá nos próximos anos, mas os sinais da Arena já começaram a ser percebidos antes mesmo da conclusão das obras.
Bairro da Arena (Foto: Juliano Kracker, Divulgação)Bairro Humaitá ganha nova vida com os benefícios da Arena do Grêmio (Foto: Juliano Kracker, Divulgação)
Bairro valorizado
No mês de outubro foi inaugurada a primeira lotérica do bairro. Agora, bastam alguns passos para pagar a luz ou a conta de telefone. Pode parecer uma mudança singela, mas ela vem acompanhada de outras ainda mais vultosas. Morar no Humaitá, por exemplo, sairá mais caro. De acordo com Cristiano Bello, proprietário da primeira imobiliária da região, inaugurada há 17 anos, o valor dos apartamentos cresceu, em média, 100%.
Arena do Grêmio (Foto: Paulo Ludwig)Efeito Arena: ramo da construção está bastante
aquecido no bairro (Foto: Paulo Ludwig)
- A Arena do Grêmio mudou o patamar do Humaitá no cenário dos imóveis. Hoje, um apartamento que valia R$ 80 mil é vendido por R$ 150, R$ 160 mil - explica.
Só até a metade do ano que vem, mais de 2,5 mil novas unidades serão entregues na região. São imóveis de alto padrão, com infraestrutura social como piscina, academia, churrasqueiras e diversos salões de festa. No momento da entrega das chaves, esses apartamentos não sairão por menos de R$ 250 mil, estima Bello.

“Acertamos na loteria”

A Arena do Grêmio é uma luz do horizonte para muitos gremistas. Acreditam que a chegada do novo estádio desencadeará uma nova era de títulos importantes, o que não ocorre há uma década. Mas não são só os fanáticos tricolores que veem o palco como salvação. Comerciantes da região que já davam o ponto como perdido agora ganham fôlego e já realizam projetos mais ousados.
O Humaitá surgiu por lei, em 17 de novembro de 1988, e idealizado a partir de um conjunto de prédios.
 
A região que circunda o bairro, porém, é antiga. Comunidades pobres como as vilas Farrapos e Dona Teodoro compõem o cenário mais próximo do novo estádio.
A família Capalonga passa aperto para vencer as contas com o dinheiro que ganha em um bar, montado há 10 anos na rua em frente ao novo estádio. O cenário de hoje não lembra nem de longe o que eles encontraram quando decidiram desbravar o local. Mato e ruas de terra batida foram substituídos pela montanha de concreto que cresce a cada dia.
Como poucos tinham a mesma coragem dos Capalonga, a zona era quase deserta, os clientes rareavam e o medo dos assaltos era constante. Mas eles persistiram. E quando já estavam perdendo as forças, a maré virou. Ruimar, 49 anos e patriarca da família, hoje é só sorrisos.
- Foi muita sorte. O nosso bar está em um dos melhores pontos da cidade hoje! No dia da apresentação do Kleber, já conseguimos ver o canhão que temos nas mãos - vibra.
Arena do Grêmio (Foto: Paulo Ludwig)Ruimar é só sorrisos com a Arena em frente ao
seu estabelecimento (Foto: Paulo Ludwig)
Os Capalonga assistiram à sorte lhes cair no colo, mas muitos comerciantes observaram o movimento do mercado e agora investem para colher os frutos gerados pela Arena. É o caso de Elton José Frietzen, 46 anos, há 15 dono de um minimercado no bairro. Temeroso, como todo o morador do Humaitá, ele esperou o estádio ganhar forma para de uma vez só duplicar o estabelecimento. Comprou uma padaria que funcionava ao lado, colocou a parede abaixo e em um mês terminou a obra.
- O nosso bairro está em franca ascensão. Era o momento certo de arriscar. Vi a oportunidade e decidi transformar meu negócio. Com a chegada da Arena, o bairro muda de status - argumenta.
Antes da reforma, Elton tinha apenas três caixas registradoras e 22 funcionários. Agora, dobrou o número de guichês e ampliou em 40% o quadro funcional. Saiu da esfera dos pequenos negócios e ganhou certificado de supermercado. Uma opção quase em extinção nas redondezas.
Sonho para uns, pesadelo para outros
Mas é claro que uma obra desse porte não traz só sorrisos. O próprio Elton alerta para o grande impacto que as ruas das redondezas sofrerão. O que hoje é um ponto pacato, de vizinhos que se conhecem há dezenas de anos, passará a ser invadido semana após semana por fanáticos vestidos de azul, preto e branco, sem vínculos com a comunidade.
- O que me preocupa é a mudança na rotina das pessoas. Isso aqui ficará lotado e, até o momento, ainda não temos vias para desafogar esse trânsito de gente e de carros. Não sabemos como o bairro vai reagir - alerta.
torcida Grêmio carreata festa novo estádio (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)Carreata em setembro de 2010 marcou início das
obras (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)
E o sossego rotineiro já foi maculado mesmo antes da inauguração. Durante a carreata até a Arena e que marcou o início das obras no dia 20 de setembro de 2010, um dos fogos de artifício atingiu o telhado da casa de Osvaldina Teixeira, 74 anos anos. Foi o bastante para a aposentada ver a obra como inimiga.
- Reclamei, esbravejei e a construtura (OAS) disse que não podia fazer nada. Não sei, não, se esse estádio vai ser uma boa - apregoa.
Mas a mesma carreata que tirou o humor da dona Osvaldina foi capaz de abrir um novo horizonte a muitos outros torcedores. Caso de Leandro Storniolo, 29 anos, morador do Humaitá há quase duas décadas. Gremista roxo, se espremia em dois ônibus sempre lotados até chegar ao Estádio Olímpico em dias de jogos. Agora, o futuro aponta um outro caminho. Bem mais perto de casa, bastando uma boa caminhada para assistir ao seu time jogar.
- Eu não acredito nisso que estou vendo! O meu bairro lotado de gremistas. É inacreditável, nunca pensei que veria isso - confidenciou no dia da festa, olhos marejados.

Naquele dia 20 de setembro, Leandro mirava ao redor e se dava conta de que a sua casa também será, muito em breve, a morada do Grêmio.
Fonte: Globo Esporte

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