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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Para Muricy, jogadores brasileiros só se formam porque 'são muito bons'

Técnico do Santos vê contraste entre o Brasil e o futebol apresentado pelo Barcelona: 'Não temos programação nem cultura para formar atletas'

Por SporTV.com Santos
Quase dois meses após a derrota do Santos para o Barcelona, na final do Mundial de Clubes 2011, o técnico Muricy Ramalho revelou uma das causas que podem explicar porque Neymar não foi páreo para o talento de Messi. Em análise do revés, sofrido no dia 18 de dezembro, o comandante do Peixe admitiu que as categorias de base do Brasil ainda estão distantes da realidade do clube espanhol. Segundo ele, os craques brasileiros surgem por mérito próprio, em contraste com os talentos catalães, que desfrutam de estrutura completa para despontarem (assista ao vídeo).
- É difícil reproduzir o estilo de jogo do Barcelona porque lá é outra cultura, outra estrutura, as pessoas têm que ter um pouco de calma em relação a isso. O lugar onde moram os meninos do Barcelona é brincadeira. Eles têm paciência com os jogadores formados na casa que nós não temos. A gente tem muita conversa de boca para fora, pois quando o time termina mal o ano, vem aqueles caras do clube, dizendo que tem que por aqueles caras da base, e aí perde duas, pedem para tirar eles, queimando eles. Nós não temos programação nem cultura para formar jogadores. Nossos jogadores se formam porque são muito bons. Não se forma porque é planejado, como lá fora. Tem que ter cultura, planejamento - explicou o treinador.
Muricy no clássico contra o Palmeiras (Foto: Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC)Muricy criticou formação de jogadores no Brasil
(Foto: Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC)
Na entrevista a seguir, concedida ao "SporTV News", Muricy Ramalho também comentou a decisão de Neymar em permanecer no Brasil e indicou o próprio Barcelona como melhor destino para o craque caso optasse por deixar o futebol brasileiro, hoje, em direção à Europa. O técnico ainda comentou o planejamento do Santos para a temporada 2012, os detalhes da derrota no Mundial, os planos de comandar a Seleção Brasileira e desmistificou a personalidade de "mal-humorado" à qual costuma ser atribuído.
Qual a sua expectativa para a temporada 2012?
- Os times estão se preparando cada vez melhor. Estão contratando muito, realmente é impressionante o número de contratação dos times. Financeiramente muito fortes. O que a torcida do Santos pode esperar é isso, um time que vai brigar por títulos.
Você foi eleito o sexto melhor treinador do mundo, sendo o único brasileiro entre os vinte melhores. O que te diferencia?
- Eu acho legal um técnico brasileiro estar entre os melhores do mundo porque é muito difícil um brasileiro chegar neste posto. No Brasil, conquistar títulos em seguida como eu estou fazendo é muito complicado, porque a dificuldade é enorme. Para mim é só satisfação, porque não tem segredo, o único segredo que nós técnicos sabem é que você tem que ganhar. Tem que ser obcecado por isso, estar aqui no dia a dia, eu praticamente moro no CT. Trabalho muito duro, assim como muitos técnicos trabalham também. O cara tem que querer mais que o adversário.
Se o Neymar saísse do Santos hoje, qual seria o melhor clube para ele na sua opinião? O que você acha da decisão dele de permanecer no Brasil até 2014?
- Eu acho que ele fez certo, porque a ida dele para o Real Madrid, por exemplo, ele teria uma certa dificuldade em jogar. No Real Madrid o que tem de jogador craque e que fica de fora, e ele precisa jogar. Ele está na fase de jogar toda hora, ele gosta de jogar futebol. Ele estava de féria e continuava jogando todas as competições. Vai chegar uma hora em que as pessoas que estão cuidando da carreira dele vão fazer ele jogar na Europa. Vai ter que jogar mesmo lá, porque lá a pessoa amadurece como jogador, pessoa, como tudo. Acho que ele não está preparado, mas se ele tivesse que ir agora eu escolheria o Barcelona.
E o Ganso?
- O grande problema do Ganso foram as contusões. Foram muito jogos e eu espero que ele volte a jogar o que ele sabe e volte para o caminho certo que é a Seleção Brasileira.
Foi surpreendente a posse de bola, os quatro gols, tudo o que se passou na final do Mundial contra o Barcelona?
- Não foi surpresa nenhuma. A mesma posse de bola que ele teve com a gente ele tinha com outros times. Mas nós não estivemos em um dia bom, eles estão sempre daquele jeito. O Barcelona não oscila nunca, para você enfrentar eles você tem que estar no seu melhor para tentar fazer um bom jogo. Nós estávamos em um dia muito ruim, e eles, como sempre, em um dia excelente.
neymar e muricy ramalho coletiva santos mundial (Foto: Thiago Dias/Globoesporte.com)Muricy ao lado de Neymar em coletiva do Mundial. Atacante admitiu após a derrota que o Barcelona havia dado uma aula de futebol (Foto: Thiago Dias/Globoesporte.com)
Qual a sua opinião sobre trazer o jeito de jogar do Barcelona ao futebol brasileiro?
- É difícil porque é outra cultura, outra estrutura, as pessoas têm que ter um pouco de calma em relação a isso. O lugar onde moram os meninos do Barcelona é brincadeira. Eles têm paciência com os jogadores formados na casa que nós temos. A gente tem muita conversa de boca para fora, pois quando o time termina mal o ano vem aqueles caras do clube, dizendo que tem que por aqueles caras da base, e aí perde duas, e pedem para tirar eles, queima eles. Nós não temos programação nem cultura para formar jogadores. Nossos jogadores se formam porque são muito bons. Não se forma porque é planejado, como lá fora. Tem que ter cultura, planejamento.
Como você pensa na possível volta à Seleção?
- Quando eu estava no Fluminense, naquela época, eu não tinha loucura por isso e continuo não tendo loucura por isso. Todo técnico brasileiro e do mundo gostaria de ser convidado, como eu fiquei. Na hora foi uma honra, mas eu achei correto ficar no clube que eu tinha contrato.
Um técnico?
- Telê Santana
O que você mudaria no técnico Muricy Ramalho?
- Menos estressado
Qual a sua principal virtude?
- Sou um cara do bem, correto.
O que é ser um craque para você?
- Vou te dar um exemplo de craque, que eu vi jogar, o melhor depois de Pelé, o Zico, um cara completo em tudo.
O que te falta no futebol?
- Todo técnico vai falar, mas não quero que achem que eu quero isso agora, que é a Seleção Brasileira, mas não agora.
Um sonho?
- Ser campeão do mundo.
Vida de treinador é difícil?
- No Brasil é, tem gente que diz que você tem que ganhar até treinamento.
Dizem que você é mal-humorado, é verdade?
- A coisa que eu menos sou é mal-humorado, as pessoas não me conhecem no dia a dia, o que eu sou é muito sério no meu dia a dia.
  Fonte: Globo Esporte

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